Desde a sua sombra sinistra pairando sobre a era do cinema mudo até as suas mais recentes encarnações nas telas modernas, Nosferatu não é somente um vampiro—é a personificação do horror puro e gótico.
Diferente de seus sucessores glamorosos e sedutores, o Conde Orlok representa um medo primordial e uma estética macabra que permanecem gravados no imaginário coletivo. Esta figura icônica, nascida do plágio genial de Drácula e transformada em lenda própria, deu origem a uma linhagem cinematográfica que vem assombrando o público há mais de um século.
Preparado para mergulhar na escuridão? Apresentamos a seguir a evolução dessa criatura imortal, listando todos os filmes de Nosferatu em ordem de lançamento. Da obra-prima atemporal de F.W. Murnau às ambiciosas releituras contemporâneas, este é um guia definitivo para acompanhar a jornada do vampiro mais aterrorizante de todos os tempos.
1. Nosferatu (1922)
O clássico Nosferatu, de F.W. Murnau, é uma obra-prima do expressionismo alemão que adaptou de forma não autorizada o romance Drácula. A narrativa segue o agente imobiliário Thomas Hutter, enviado para os Cárpatos para fechar um negócio com o enigmático Conde Orlok, que, na verdade, é um vampiro ancestral. Fascinado pela noiva de Hutter, Ellen, o ser monstruoso viaja para a Alemanha, espalhando terror e peste.
Max Schreck é a personificação do puro mal em uma atuação icônica. Com sua atmosfera de pesadelo e imagens surrealistas, o filme permanece como uma das experiências mais assustadoras e influentes do cinema.
2. Nosferatu - O Vampiro da Noite (1979)
Nosferatu: O Vampiro da Noite, de Werner Herzog, é uma sublime e fiel homenagem ao clássico de Murnau, mas com uma alma própria. Klaus Kinski interpreta o Conde Orlok com uma profundidade trágica e uma solidão angustiante, transformando o vampiro em uma figura patética e profundamente humana, além de aterradora.
A narrativa mantém a essência da história original: um agente imobiliário vai até o castelo do conde e, ao fechar o negócio, libera o mal sobre sua cidade e sua amada. Herzog cria uma atmosfera opressiva e melancólica, com imagens desoladoramente belas que exploram temas de loucura, eternidade e desejo; ele mantém a estrutura e as cenas icônicas do original, mas troca o pesadelo expressionista por uma melancolia romântica e existencial. Porém, o horror atmosférico e filosófico deste filme lembra bastante O Sacrifício, de Tarkovsky.
Enquanto Schreck na versão de 1922 é o mal puro e animal, Kinski é um vampiro torturado por sua própria eternidade. Mais do que um remake, é uma meditação poética e sombria sobre a condição amaldiçoada da imortalidade. Ambos humanizam a figura do monstro, mas de formas diferentes. Herzog o faz com seriedade trágica, enquanto Merhige usa a metalinguagem e o humor negro.
3. Drácula em Veneza (1988)
Drácula em Veneza, estrelado novamente por Klaus Kinski, é uma sequência não oficial e controversa que deveria ser sua segunda interpretação do vampiro, mas tornou-se uma produção caótica e amplamente criticada. Dirigido por Augusto Caminito, o filme se afasta radicalmente do tom de Herzog, apresentando um Conde Drácula (aqui chamado de Nosferatu) ressuscitado em Veneza para quebrar sua maldição. A trama é confusa e de baixo orçamento, focando em rituais e perseguições.
Kinski, visivelmente desinteressado, entrega uma atuação distante, mas ainda carrega uma presença perturbadora. O resultado é um filme cult estranho, mais notável por seu valor como curiosidade do que por seus méritos artísticos, fechando ambos os filmes de Kinski com o personagem de forma lamentável, porém memorável para os fãs mais hardcore.
Este é a antítese Nosferatu - O Vampiro da Noite, por abandonar toda a poesia, atmosfera e profundidade para ser um filme de terror italiano de baixo orçamento dos anos 80, aproveitando-se da presença de Kinski. Só recomendado para fãs incondicionais de Klaus Kinski que queiram completar sua filmografia, ou para amantes de filmes B trash e curiosidades do cinema de terror, mas que não tem a qualidade que Herzog trouxe para Nosferatu (1922) ou que Murnau para O Vampiro da Noite.
4. A Sombra do Vampiro (2000)
A Sombra do Vampiro é uma obra metalinguística brilhante que mescla ficção e realidade para imaginar uma premissa audaciosa: e se o astro Max Schreck, do clássico Nosferatu (1922), fosse um vampiro de verdade? Dirigido por E. Elias Merhige, o filme acompanha o diretor F.W. Murnau (John Malkovich) em sua obsessiva busca pela perfeição artística, que o leva a recrutar uma criatura genuína (Willem Dafoe) para interpretar o Conde Orlok.
Dafoe, em atuação sublime e indicada ao Oscar, rouba a cena como uma figura simultaneamente aterrorizante, patética e tragicamente humana. A narrativa explora o custo da criação artística e a linha tênue entre o genial e o monstruoso, tornando-se não somente um tributo, mas uma profunda e original reflexão sobre o poder do cinema e o preço da imortalidade por meio da arte. Esta é uma daquelas obras que te faz questionar “como chegaram a esta ideia?”, mas de maneira muito divertida. Se pensamos em comparação com o original de 1922, ambos humanizam a figura do monstro, mas de formas diferentes. Herzog o faz com seriedade trágica, enquanto Merhige usa a metalinguagem e o humor ácido.
Este é o filme mais único da lista. Enquanto os outros são adaptações ou releituras da história, A Sombra do Vampiro é um filme sobre a criação do filme original. É uma camada meta de comentário artístico. Se você gosta de filmes sobre o making-of de filmes, como O Artista ou Boa Noite, e Boa Sorte, mas com uma pitada de horror e humor ácido, esta é uma joia absoluta para você. Perfeito também para quem já viu o original de 1922 e ficou fascinado pelo mistério e pela lenda por trás da atuação de Max Schreck.
5. NOS4A2 (2019)
Importante esclarecer que NOS4A2 (pronunciada "Nosferatu") é uma série de terror sobrenatural da AMC, baseada no romance de Joe Hill, filho de Stephen King. Embora o título seja uma clara homenagem sonora ao vampiro clássico, a história não é uma adaptação direta do mito de Nosferatu.
A trama acompanha Vic McQueen, uma jovem artista com poderes psíquicos que entra em rota de colisão com Charlie Manx, um vilão imortal que sequestra crianças para um mundo de fantasia macabra chamado "A Árvore de Natal". Manx, magistralmente interpretado por Zachary Quinto, não é um vampiro tradicional, mas um "vampiro de energia" que drena a vitalidade de suas vítimas, mantendo-se jovem e as condenando a uma existência sem alegria. A série é uma narrativa moderna e original sobre o mal, o trauma e a resiliência, usando a referência a Nosferatu mais como uma metáfora para uma criatura parasita que se alimenta da inocência do que como uma recriação literal do personagem de Orlok.
É a obra mais distante, usando Nosferatu apenas como um conceito metafórico para um novo tipo de vilão. A conexão é temática (a criatura que suga a vida) e não a narrativa. Se você gosta de séries de terror modernas com mitologias próprias e vilões carismáticos, como The Strain, vale muito a pena conferir NOS4A2. Ideal para fãs da literatura de Stephen King e Joe Hill, que apreciam histórias sobre poderes sobrenaturais e batalhas entre o bem e o mal em cenários contemporâneos.
6. Nosferatu (2024)
Nosferatu marca o retorno do diretor Robert Eggers ao horror gótico, sendo uma releitura visceral e fiel ao espírito da obra-prima de Murnau. Com um elenco estelar que inclui Bill Skarsgård como o Conde Orlok, Nicholas Hoult e Lily-Rose Depp, o filme reimagina a clássica história de obsessão e terror sobrenatural. Uma curiosidade interessante é que Willem Dafoe mais uma vez está em um longa sobre Nosferatu, assim como acontece em A Sombra do Vampiro.
A trama aqui acompanha a jovem Ellen assombrada pela presença sinistra do vampiro ancestral, que a persegue trazendo consigo um rastro de caos e decadência. Eggers, conhecido por seu meticuloso cuidado estético e atmosferas opressivas, busca não somente homenagear o original, mas reinventá-lo com uma ótica contemporânea, explorando temas de isolamento, desejo e medo primordial. Impossível falar deste filme sem destacar a caracterização aterradora de Skarsgård, que evoca a essência monstruosa e perturbadora do vampiro, distanciando-se de qualquer glamourização. Esta versão une a tradição expressionista com a linguagem visual moderna do horror.
Esta é uma adaptação mais direta e fiel em espírito ao original desde o filme de Herzog, mas com a assinatura visual hiper-realista e atmosférica de Robert Eggers. Se compararmos a O Vampiro da Noite, vemos que ambos são releituras de prestígio, mas com Eggers priorizando o horror gótico e a monstruosidade pura (mais próximo de Schreck), enquanto Herzog foca na tragédia humana (Kinski).
Se você é fã do trabalho anterior de Robert Eggers (O Farol, A Bruxa) e aprecia um horror lento, atmosférico e visualmente deslumbrante, esta é a adaptação perfeita para você.