Um dos grandes marcos da ficção científica chega ao seu novo capítulo. Tron: Ares está em exibição nos cinemas de todo o Brasil, trazendo de volta o memorável personagem Kevin Flynn, interpretado por Jeff Bridges desde o primeiro filme. Convenhamos, uma ótima oportunidade para fazermos um mergulho na extensa carreira de um dos atores com o maior número de indicações ao Oscar na história (sete vezes).
Por isso mesmo, preparamos um ranking com os melhores filmes e performances de Jeff Bridges, ator que se destaca em qualquer tipo de papel, seja qual for o gênero do filme, sempre atuando de maneira natural e extremamente convincente e elegante. Todos os filmes estão disponíveis online, em diversas plataformas por assinatura ou através de aluguel em streaming.
10. Tron: Uma Odisseia Eletrônica (1982)
Começando pelo filme que inaugurou uma das franquias mais populares quando o assunto é Inteligência Artificial. Se o filme de 2025 (Tron: Ares) traz o mundo virtual invadindo o mundo real, Tron: Uma Odisseia Eletrônica, já nos anos 80, refletia, de maneira ficcional, sobre a relação entre computador e homem, propondo o movimento contrário: um programador (interpretado por Jeff Bridges) que acaba sendo aprisionado no universo digital.
Um filme com uma estética única, que remonta aos primeiros jogos de videogame, e bastante ousada para a época, que ficou muito marcado pelo seu visual neon e seus efeitos visuais criativos que simulavam os espaços virtuais. No entanto, é impossível pensar no sucesso do filme, e consequentemente da franquia, sem atrelá-lo à poderosa interpretação de Jeff Bridges, que carrega um filme que se passa boa parte em cenários completamente irreais. Uma performance que ficou marcada na sua carreira, muito por conta da dificuldade de atuar sem muitas referências físicas e visuais. Uma obra que recomendo para qualquer amante de ficção científica como Blade Runner, com o aviso de que o lado de aventura otimista, característico de filmes da Disney, está bastante presente.
9. O Último Golpe (1974)
Voltando agora ainda mais no tempo para falarmos sobre um dos papéis que popularizaram o ator quando ainda jovem. Primeiro filme dirigido por Michael Cimino na carreira, O Último Golpe traz Clint Eastwood e Jeff Bridges formando uma dupla improvável de assaltantes que planejam um último roubo. Um filme realizado de maneira bem artesanal, com uma estética crua e belas paisagens, completamente oposto ao que encontramos em Tron: Uma Odisseia Eletrônica, e que mistura o ambiente de road-movie, com a adrenalina de filmes de ação.
No entanto, apesar das inúmeras qualidades estéticas do longa, sua maior virtude mora no campo das representações. Tanto Eastwood, que dá vida ao assaltante mais experiente e veterano de guerra, quanto Bridges, que interpreta o seu intenso e divertido aprendiz, que nutre um fascínio enorme (quase romântico) pelo personagem mais velho, estão excelentes. Não à toa, Bridges recebeu uma nomeação ao Oscar pelo papel. Para quem está em busca de um filme de assalto que escolhe se aprofundar na psicologia e na relação entre os personagens, como Um Dia de Cão, certamente é uma excelente escolha.
8. Starman: O Homem das Estrelas (1984)
Voltando novamente para o campo da ficção científica, Starman: O Homem das Estrelas, clássico de John Carpenter, assim como Tron: Uma Odisseia Eletrônica, também é um marco do gênero dos anos 80. Mas aqui, Jeff Bridges, ao invés de interpretar um humano que embarca em uma viagem dentro de um computador, o ator dá vida a um ser extraterrestre que assume o corpo do falecido marido de uma mulher, e acaba criando uma conexão real com ela.
Um filme que causa uma identificação ainda maior no espectador (comparado com Tron), justamente por acompanharmos um ET na tentativa de entender a humanidade. É aqui que entra o exímio trabalho de Bridges, que constrói uma curva dramática muito sensível e expressiva, de um personagem que adquire aos poucos os nossos trejeitos mais humanos. Uma obra que constantemente é esquecida entre os amantes de ficção científica mais familiar, mas que na minha visão não fica muito abaixo dos principais filmes do gênero, como Contatos Imediatos do Terceiro Grau e E.T. - O Extraterrestre.
7. Tucker: Um Homem e Seu Sonho (1988)
Vamos pular agora de uma performance mais minimalista, onde suas maiores qualidades aparecem através dos detalhes, em referência a Starman: O Homem das Estrelas, para uma interpretação muito mais enérgica e extravagante. Tudo isso, na pele do visionário Preston Tucker, um revolucionário designer de carros da primeira metade do século XX.
Assim como Starman é constantemente esquecido quando o assunto é ficção científica, Tucker: Um Homem e Seu Sonho também não aparece com muita frequência nas listas dos melhores filmes de Francis Ford Coppola. Uma verdadeira injustiça, uma vez que, na minha visão, é uma das obras mais completas do diretor, que conta com um roteiro envolvente, um visual deslumbrante e uma atuação de Jeff Bridges de tirar o chapéu — que capta de maneira perfeita a essência de um homem sonhador e que desafiava as convenções da época. Em tempos onde as cinebiografias estão bastante em moda, não perca a oportunidade de assistir a um dos maiores expoentes do gênero.
6. O Pescador de Ilusões (1991)
O lado mais cômico de Jeff Bridges, encontrado em O Último Golpe, também é explorado em O Pescador de Ilusões. Um filme extremamente bem realizado, que recomendo muito para quem é fã do estilo fantástico, sempre com comentários sociais, característicos do cinema de Terry Gilliam, conhecido por ter dirigido Brazil, o Filme.
Contracenando ao lado do genial Robin Williams, Bridges entrega uma das atuações mais transformadoras da sua carreira, já que interpreta um radialista egoísta e insensato, que muda, aos poucos, ao conhecer um morador de rua que o faz enxergar o mundo e as pessoas de outra maneira. Uma performance completamente espontânea e genuína, em um filme bastante imaginativo, e que nos faz refletir sobre o impacto das nossas ações nos outros, mas também do poder da amizade de curar as nossas feridas e traumas. Ocupa a sexta posição não só pela interpretação transcendente de Bridges, como também pela temática do filme, que na minha visão, é ainda mais profunda do que a de Tucker: Um Homem e Seu Sonho.
5. A Qualquer Custo (2016)
A imponência e postura de Jeff Bridges, principalmente quando mais velho, normalmente cai como uma luva em um faroeste. Além de Bravura Indômita (a seguir), o ator tem grande destaque em A Qualquer Custo, um filme para quem gosta de ‘westerns’ mais modernos, com um alto grau de tensão, como Sicario: Terra de Ninguém e o próprio Terra Selvagem, que é do mesmo diretor (Taylor Sheridan).
O filme acompanha dois irmãos que precisam de dinheiro e decidem assaltar bancos, mas se deparam com a figura de um experiente policial (interpretado, é claro, por Jeff Bridges), um personagem completamente oposto ao de O Último Golpe. Com uma performance bastante física do ponto de vista postural, e construída sobretudo nos detalhes e olhares de um homem que sempre parece estar certo e à frente daqueles que tenta perseguir, Bridges prova, que mesmo com uma idade mais avançada, continua atuando da mesma maneira convincente e completamente autêntica.
4. Bravura Indômita (2010)
Vamos agora para um faroeste ainda mais impressionante que A Qualquer Custo e que propiciou a Jeff Bridges uma amplitude dramática muito maior, uma vez que ao invés de interpretar um homem íntegro que defende a lei, dá vida a um inescrupuloso, bêbado e brutal xerife, que auxilia uma garota a se vingar do homem que matou seu pai, em Bravura Indômita. Uma performance multifacetada que reflete, de maneira equilibrada, os dois lados de um personagem ambíguo e indecifrável.
Como estamos falando de um filme dos irmãos Coen, não espere encontrar os mesmos elementos do faroeste clássico estrelado por John Wayne, também intitulado Bravura Indômita, e adaptado do mesmo livro. Mas sim um filme sombrio e ao mesmo tempo cômico, completamente imprevisível e com diálogos mais hilariantes e expressivos, característico do estilo dos autores. Na minha visão, um dos melhores faroestes das últimas décadas, ao lado de Onde os Fracos Não Têm Vez, realizado pelos mesmos diretores.
3. Coração Louco (2009)
Chegamos agora no filme responsável pela única estatueta do Oscar para Jeff Bridges, e que só não se situa na primeira colocação do ranking, uma vez que os dois próximos filmes da lista são verdadeiras obras-primas, e contam, a meu ver, com as performances da vida do ator.
Coração Louco, assim como Bravura Indômita, traz Bridges interpretando um homem com vício em bebida, com a diferença de que seu personagem é um cantor country em crise, que tenta sair de uma fase de autoaniquilação, ao mesmo tempo em que se apaixona por uma jornalista mais jovem. Uma interpretação tão realista, sensível e empática, que praticamente acreditamos que Bridges é o personagem (Bad Blake) do filme — vale lembrar que o ator também é músico na vida real. Para quem gosta do longa Nasce Uma Estrela, e nunca assistiu a este (que traz uma temática muito semelhante), certamente não ficará decepcionado.
2. A Última Sessão de Cinema (1971)
Na segunda colocação, se situa um longa que constantemente aparece na lista de filmes favoritos de muita gente (onde me incluo). A Última Sessão de Cinema, drama adolescente dirigido por Peter Bogdanovich, é um dos maiores clássicos dos anos 70, e traz Jeff Bridges super novinho e com um magnetismo extraordinário, em um papel que capta perfeitamente o espírito de um jovem norte-americano provinciano sem rumo, e que tenta encontrar algum sentido e futuro na vida, durante a década que se seguiu após o término da Segunda Guerra.
Evidentemente, o filme também ilustra, através do seu personagem, elementos característicos de um ‘coming-of-age’, por meio da sua relação com uma garota da cidade, mas também evidenciando a sua perda de ingenuidade e descoberta de um mundo não tão promissor. Um filme que indico muito para quem gosta de histórias mais modestas e que concentram-se, sobretudo, na beleza e na tristeza dos pequenos detalhes do cotidiano e de pessoas comuns, como nós.
1. O Grande Lebowski (1998)
Por fim, aterrissamos no magnum opus do trabalho de Jeff Bridges como ator. O Grande Lebowski (obra que considero a mais divertida e delirante dos Irmãos Coen), é o filme, no imaginário popular (e também no meu), que conta com o personagem mais icônico, engraçado e excêntrico da carreira de Bridges. Uma figura ainda mais carismática, divertida e descontraída do que o seu personagem (Lightfoot) em O Último Golpe.
O Grande Lebowski conta com um estilo irreverente e personagens irresistíveis, uma energia caótica, e um roteiro que mistura comédia e ação de maneira bastante imprevisível. Uma obra que recomendo para qualquer amante de boas comédias inusitadas como Vício Inerente e Dois Caras Legais. No papel do despreocupado Lebowski, também conhecido como The Dude, que é confundido com um milionário com o mesmo nome, Jeff Bridges preenche a tela com uma performance descontraída que dita o ritmo do filme, e nos fascina (e diverte) durante toda a exibição. Um personagem impossível de se esquecer, não importa quanto tempo passe.